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Junta da Galiza

D. Manuel Clemente, Bispo do Porto

D. Manuel Clemente, Bispo do Porto
Tem por hábito percorrer as ruas a pé e utilizar os transportes públicos, o que lhe permite uma interpelação directa e constante dos seus habitantes. “Sou diversas vezes abordado pelas pessoas na rua, sempre de forma espontânea, e gosto disso. É muito humano” afirma, sublinhando que percorrer as ruas é fundamental para se conhecer a cidade. “Para além de que faz bem, é um óptimo exercício físico”, salienta.
Na Avenida dos Aliados consegue encontrar a alma de uma cidade que, diz, tem uma personalidade forte o que lhe permite aderir em conjunto a movimentos e iniciativas como demonstram os fragmentos da História. “Vincadamente consegue-se distinguir características próprias da cidade nomeadamente uma grande capacidade de afirmação e de sentido colectivo. Comparativamente com Lisboa, há uma frase que gosto de usar: O Porto é do Porto, Lisboa é de quem a apanhar”. De acordo com o bispo, a capacidade reivindicativa mantém-se, embora a realidade social já não seja polarizada unicamente no concelho mas sim na área metropolitana. “À volta do Porto desenvolveram-se importantes centros urbanos que com ele partilham o espírito popular e a capacidade de afirmação e autorregulação”, afirma, lembrando que vários episódios marcantes da História aconteceram na cidade. “A Revolução Liberal e a Implantação da República foram acontecimentos que tiveram no Porto a sua origem”, afirma.
Gosta do movimento que se gera nas ruas, seja de dia ou de noite, e que resulta do encontro de pessoas. “O movimento que se gera no centro da cidade, agora também à noite com a animação da Baixa, é um factor francamente positivo”.

Rituais dos tempos livres
Para além dos rituais diários que mantém ao serviço da Igreja Católica, “a instituição mais antiga do território”, destaca, o Bispo do Porto não dispensa uma boa leitura dedicando-se também à escrita nos tempos livres. Gosta de viajar e conhecer novos destinos, no pequeno período de férias que tem, e opta por locais que lhe permitam o contacto natureza, um gosto ainda ligado ao escutismo da sua “veia adolescente”. “As férias são sempre fora do país com alguns colegas do curso sacerdotal, uma tradição antiga. Este ano foram passadas nos Pirinéus”, revela.
Adepto do Torriense, o clube da sua terra, D. Manuel Clemente gosta de assistir a um bom jogo de futebol, embora a sua presença nos estádios seja rara. “Geralmente os jogos acontecem ao fim-de-semana, altura em que os afazeres profissionais me absorvem”, refere, confessando, no entanto, que gosta de ver jogos, resumos e de acompanhar a actividade desportiva. “Normalmente, ao fim de 15 minutos de jogo já estou a torcer por uma das equipas”, assegura.

Cultura e inovação
Considerado como uma referência ética para a sociedade portuguesa, D. Manuel Clemente foi a primeira personalidade da Igreja a ser distinguida com o Prémio Pessoa. “A sua intervenção cívica tem-se destacado por uma postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, de combate à exclusão e da intervenção social da Igreja. Ao mesmo tempo que leva a cabo a sua missão pastoral, D. Manuel Clemente desenvolve uma intensa actividade cultural de estudo e debate público”. Foi assim que o júri do mais prestigiado prémio nacional justificou a escolha do Bispo do Porto como a personalidade que mais se destacou no ano de 2009. “Foi com total surpresa que recebi a notícia, não estava a contar. Mais do que orgulho senti uma responsabilidade acrescida”, sublinha o prelado, admitindo sem “nenhuma espécie de humildade forçada” que há, na sociedade portuguesa, “muitos homens e mulheres com mais perfil e substância para o Prémio Pessoa”. Também foi um dos pioneiros a utilizar o canal Youtube para difundir as mensagens da diocese. “Fui o segundo, o primeiro foi o Bispo de Beja”, afirma D. Manuel Clemente, salientando a visão inovadora do seu secretário, o padre Américo Aguiar, que se encontra a terminar o mestrado em Comunicação Social. “É ele que me põe em «rede» e me insere nessas novas ferramentas que eu próprio não saberia utilizar”.

Vocação profissional
A vocação religiosa surgiu-lhe no seio da família, principalmente por parte da mãe. “Na infância transmitiu-me uma maneira muito própria de viver a vida, com uma grande ligação a Deus”. Depois deu-se a inserção na vida paroquial, um círculo muito afectivo e próximo da comunidade e, ao longo da juventude, na intervenção em movimentos de acção católica e no escutismo. Quando terminou o curso universitário tomou consciência de que a religião era a sua verdadeira vocação. “Apercebi-me que era o que eu queria fazer. Implicaria uma disponibilidade geral e uma condição celibatária mas foi a minha escolha”, recorda.

Núcleo urbano e religião
Para D. Manuel Clemente, e no que diz respeito ao núcleo urbano, as carências mais visíveis prendem-se com o grande número de idosos que vive só. “A solidão e o abandono é um problema gravíssimo na nossa sociedade para o qual têm de ser encontradas soluções. Não podemos olhar para os mais velhos com a perspectiva do que eles «ainda podem dar à sociedade» mas sim na do que «só eles podem dar à sociedade». De acordo com D. Manuel Clemente, e de uma perspectiva religiosa, a rede paroquial, através de diversos mecanismos pode contribuir para minorar este problema.
A ideia de haver, actualmente, um maior distanciamento dos jovens relativamente à religião depende – sustenta – de diversos factores. “Quando se nasce no seio de uma família cristã há, geralmente, uma transmissão quase espontânea dos valores católicos que acabam por ser vividos em pleno até à adolescência. A partir dos 16/17 anos entra-se na diáspora juvenil, característica da juventude, à qual se acrescenta uma crescente itinerância e desenraizamento. Assim, a maior ou menor presença dos jovens na Igreja corresponde ao seu modo de vida actual”, assegura. “Falar com Deus é possível em todo o lado e, no Cristianismo, a relação com Deus passa necessariamente pela relação com os outros”, refere. O Bispo do Porto defende ainda que o contacto com outras religiões, seja na dimensão ecuménica (entre comunidades cristãs: católica, protestante, ortodoxa) ou interrreligiosa (judeus, muçulmanos, budistas) é fundamental, não só para que cada uma se reconheça naquilo que as distingue mas também para o bom entendimento relativamente a questões essenciais à Humanidade.

Discurso Directo
Uma viagem de sonho – A que ainda não fiz
Um livro – Os Evangelhos
Música – Bach e Arvo Pärt
Um filme inesquecível – “Marcelino pão e vinho”
Um projecto inadiável – A diocese do Porto
Um símbolo do Porto – Torre dos Clérigos
Figura da cidade – D. António Barroso
O Porto numa só palavra – Generosidade
Manuel José Macário do Nascimento Clemente, 62 anos, natural de Torres Vedras, é bispo da Diocese do Porto, desde Fevereiro 2007, tendo sido, entre 2000 e 2007, bispo auxiliar de Lisboa, para onde foi viver aos 13 anos. “Foi para mim uma total surpresa quando o representante do Papa me transmitiu a transferência para o Porto e vim muito disponível para conhecer a cidade”, conta. Licenciado em História, pela Faculdade de Letras da universidade lisboeta, ingressou, posteriormente no Seminário Maior dos Olivais e obteve mais um diploma em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa (UCP). Doutorado em Teologia Histórica em 1992, tem diversas obras literárias publicadas, continuando, ainda, ligado ao ensino na UCP, onde também dirige o Centro de Estudos de História Religiosa. D. Manuel Clemente participa regularmente desde há 12 anos na rubrica «Na fé dos homens», da RTP2, e é presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

Texto: Marta Almeida Carvalho
Revista VIVA! – Edição Setembro 2010

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