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É tão bom assim ser do Porto…, por Júlio Couto

É tão bom assim ser do Porto..., por Júlio Couto

Os anos passaram e a escola foi desativada, mas como estava instalada em prédio alugado à família Van Zeller, ficou encerrada e sem movimento que se visse, até que, um dia, na frontaria surgiu o anúncio de ali se ir instalar uma escola destinada ao ensino musical de crianças. O velho bichinho de saber e comunicar, levou-nos a indagar qual a transformação e, por gentileza do diretor da Escola, com origem em Lisboa, e que para se encontrar connosco se deslocou ao Porto, soubemos toda a maravilhosa realidade.
Ao tempo em que era Escola, o último andar era habitado por um casal de antigos professores, ali colocados – a D. Belmira e o Senhor Moura. Ela é que comandava as “tropas” e conseguia dar aulas ao mesmo tempo que fazia o almoço, e ele era um apagado bom homem, colocado na posição de diretor consorte mas (soubemo-lo posteriormente) dedicado melómano. Tinham uma filha e uma sobrinha, que estudavam na Escola do Magistério Primário e que, pelas aulas, às vezes, apareciam. Quando a escola acabou, o casal entrou em negociações com o proprietário, que lhes vendeu o imóvel a preço mais que acessível. E lá ficaram a viver todos, até que a porca da Parca foi cortando o fio da vida do casal e a filha seguiu para Lisboa, onde se colocou no Instituto de Meteorologia e só ocasionalmente vinha ao Porto, ocupando, então, o seu quarto, ao lado do da prima, que ali se mantinha. Talvez pela influência do pai, dedicou-se ao grupo coral do Instituto e descobriu, em Lisboa, uma escola dedicada ao ensino musical de crianças, com a particularidade de ser grátis para as que não tivessem outra possibilidade, mas tivessem vontade de aprender. Ficou deslumbrada com tal maravilha e logo lhe surgiu a ideia de que “uma coisa destas é que era precisa no Porto”. O diretor da Associação achou graça e respondeu que para isso se concretizar só precisava de instalações acessíveis e viáveis, nesta cidade. Se o problema era esse, ela oferecia a sua casa no Porto, com a condição de manter o último andar ao serviço dela e da prima, enquanto viverem. “Negócio” fechado, com o requinte de oferecer também o piano do pai, que tem uma caixa de música incluída, a que acresceu quase cem cilindros, que ele possuía, e que utilizava na referida caixa. E que ainda funciona…
E assim nasceu a Escola de Música Guilhermina Suggia, a funcionar em pleno na nossa antiga escola, e onde tenho uma amiga, de dez anos, a Catarina, que ali faz o seu aprendizado de guitarra.
De propósito não divulgamos (nem ela o quer) o nome desta Benfeitora, mas queremos com isto afirmar do nosso muito contentamento por poder, com um exemplo destes, continuar a acreditar na humanidade, no altruísmo, no desejo de ser útil, mesmo à custa do desprendimento de algo de seu. Obrigado, querida Amiga, que fica sempre recordada em cada acorde, mesmo dissonante que seja, saído pelas mãos de uma criança num qualquer instrumento. Bem hajas.

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Júlio Couto
Historiador
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