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Eu sou do Porto?, por Maria José Azevedo

Eu sou do Porto?, por Maria José Azevedo

E assim se mantém o embaraço, porque eu gosto de dizer que sou do Porto, porque é isso que sinto – foi a terra que escolhi para viver e aqui fixar raízes, já lá vão quase trinta anos – tenho com o Porto, se não uma união de direito, uma união de facto – desde logo porque essa ligação resulta de uma escolha, não foi obra do destino. Aqui ganhei uma família, criei uma filha, fiz amigos para a vida – por isso, é o meu porto de chegada.

Quando aqui cheguei, estranhei – o cinzento do granito, as ruas estreitas, o frio e a chuva quase permanente no Inverno, o desconforto de uma paisagem que me era estranha, criada que fui em grandes espaços, e horizontes a perder de vista. Depois, entranhei – desde logo a espontaneidade e a generosidade de quem cá vive, que, para mim, é o melhor que o Porto tem. Há lá exercício mais revigorante do que passear pela baixa da cidade, sentir o conforto da multidão apressada, ser confrontada aqui e ali com um palavrão que escapa, em português vernáculo e à moda do Porto, alternando com as expressões de carinho em que são especialistas as mulheres do Bolhão, ali onde se confundem os cheiros com as cores, num espaço belíssimo que urge conservar. E a comida, senhores, mistura de aromas que acompanham a substância, sejam as tripas ou as francesinhas, boas em qualquer lado, os filetes do Aleixo ou da Casa Nanda, as bifanas da Conga ou o pica no chão do Buraco.
E temos o Porto dos ingleses, que aqui deixaram marca que se mantém. E a zona ocidental, das avenidas largas, dos restaurantes da moda, e das vivendas que trazem memórias de outros tempos. E a zona oriental, mais pobre, à espera da sua oportunidade. E uns e outros, todos juntos no S. João, essa festa única no mundo, onde todos os mundos se encontram. Como se encontraram e continuam a misturar no Coliseu, escola de muitas gerações, que souberam lutar por ele, quando foi necessário!
E a água, do rio e do mar, que nos separa e nos une. E a música do Porto sentido, do piano do Burmester que se ouve na Casa da Música, das vozes e das danças do Rancho Folclórico do Porto que ecoam no empedrado irregular das ruas estreitas da Zona Histórica, a enquadrar as estórias da história da cidade, na voz do Germano Silva. E o outro Porto, o da bola, que tantas alegrias dá, e que tem levado o outro Porto, a cidade, a ser conhecida além fronteiras. Como o fazem os nossos arquitectos, os nossos investigadores, os nossos poetas, os nossos escritores.
É este Porto, e o outro que ficou por dizer, que eu amo, que eu escolhi para viver e que não troco por nenhum outro sítio no mundo. E, se às vezes é bom sair, muito melhor é voltar a casa. Por isso, quando me perguntam de onde sou, a resposta é imediata e dada com orgulho: sou do Porto!

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Maria José Azevedo
Jornalista

*Este texto não foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico{jcomments on}

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