“O Amor é…”
Do programa de sucesso da Antena 1, chega-nos “O Amor é”, de Júlio Machado Vaz e Inês Menezes. O livro já se encontra nas livrarias. A VIVA! já leu e deixa aqui algumas impressões, guiada por uma pergunta central: afinal, o que é o amor?
O Amor é… “possível e necessário”, resumiu à VIVA! Júlio Machado Vaz. Para Inês Menezes, é “tantas coisas. Disponibilidade acima de tudo. Cuidado: em ouvir, respeitar (até o silêncio) o espaço, as fronteiras que se devem estabelecer. Amor é admiração também, mas sem cuidar, nada feito”, assegurou.
O que une Carlos Tê, Jacques Brel, Rui Reininho ou Samuel Úria? Talvez a força das palavras e do amor, esse ‘palavrão’ que por vezes desencadeia, isso mesmo, ‘problemas de expressão’.
O facto é que, neste livro, canções e poemas de diversos nomes sonantes da cultura contemporânea servem de mote a conversas inéditas, feitas propositadamente para memória futura entre Júlio Machado Vaz e Inês Menezes, ao estilo do icónico programa de rádio que partilham há uma década na Antena 1.
Aqui falamos de paixões adolescentes, amores adiados, nostalgia da paixão, apologia do engate, entre outros pertinentes temas.
Esta obra resulta do programa da Antena 1, com o mesmo nome, um dos mais antigos da rádio portuguesa que está há já 15 anos no ar.
Esta jornada na Antena 1 entre os dois profissionais é descrita para Inês Menezes como “feliz, de crescente cumplicidade e conhecimento”.
“Temos renovado os ‘votos deste casamento’ todos os anos. Ou somos masoquistas, ou gostamos de trabalhar juntos (risos)”, concluiu Júlio Machado Vaz.
Júlio Machado Vaz é reconhecido por ter sido o primeiro especialista a abordar de forma clara e consistente temas ligados à sexualidade na comunicação social, como “O Sexo dos Anjos” e “Sexualidades”.
Já Inês Menezes é uma das radialistas de maior notoriedade no país e, para além de ser voz na Radar, colabora com meios importantes como a Antena 1, o Expresso ou a SIC Radical.
O prefácio é de Manuel Sobrinho Simões, reconhecido em 2015 como o mais influente patologista do mundo.
Para quem nutre muita curiosidade sobre esta obra poderá participar na sessão do Porto de Encontro deste sábado, que aborda precisamente Júlio Machado Vaz e este seu livro em conjunto com Inês Menezes, que também estará presente no evento. Marque na agenda!
A obra
A seleção dos temas foi dos protagonistas do programa da Antena 1. “Sim, foi uma metade/metade muito saborosa de juntar. O Júlio escolheu as dele e eu as minhas. Foi tudo fácil e fluído, já que são muitos anos de cumplicidade”, revela Inês Menezes.
“Cinco para cada um, nenhuma levou o outro a franzir o sobrolho. A triagem foi um suplício, ficou tanta coisa apetitosa de fora!”, observou Júlio Machado Vaz.
O amor é feito de recomeços?
Inês Menezes (IM): O mais importante é o nosso. O de cada um. Recomeçar cada dia. Recuperar da perda. Recuperar do amargo e da dor que se instalaram. Os recomeços no amor são complexos e diferem muito de dupla para dupla. Nem todos resultam.
Júlio Machado Vaz (JMV): Quando não se tem sorte, talento e teimosia para acertar à primeira, sim. E mesmo nesses casos é bom não esquecer que qualquer relação tem os seus solavancos.
Em época de frenesim das redes sociais, ainda há espaço para o amor romântico?
IM: Tem que se querer muito e trabalhar mais ainda. Somos todos levados pela paranóia que as redes criam: de vigilância e desconfiança. Do facilitismo. Da preguiça. É preciso trabalhar mais do que nunca para que o amor cresça saudável.
JMV: Sim, mas não à la século XIX, o romantismo de hoje adaptou-se a uma sociedade de consumo.
O amor tem prazo de validade?
IM: Não. Há até muitos amores que vivem (felizmente) para lá dos amantes. O amor pode ser intemporal. É desses amores que o cinema, a literatura e a música se alimentam.
JMV: Pode ter, embora costume resistir melhor do que a paixão. É preciso trabalho para o preservar da ferrugem da rotina. Ou do simples crescimento em direções diferentes de duas pessoas.
Num século XXI conectado, é possível sentir-se sozinho na multidão?
IM: Mais do que nunca. A conexão, como sabemos, é uma bolha que facilmente se esvazia. A ligação com os outros é fácil mas muitas vezes oca.
JMV: Não é só possível, é frequente. No consultório – e fora dele… – as pessoas queixam-se de se sentirem sós no meio de multidões.
É impossível ser feliz sozinho, como diz o Tom Jobim?
IM: É. Amor também é amizade. Podemos não viver apaixonados ou com alguém, mas o amor estende-se aos amigos, à família. Na falta de um namorado/a, os amigos e a família podem ser o amor que quase nos basta.
JMV: Não, não é. A espaços ou sempre podemos ser felizes sem esta forma de amor. Já considero mais difícil prescindir da amizade.
A Amy Winehouse apresenta uma canção intitulada “Love is a losing game”. Todos perdem no amor?
IM: Eu, que venero a Amy Winehouse, terei de a contrariar. O amor é a soma de tanta coisa boa, mesmo que o saldo, por vezes, nos pareça negativo. Às vezes é preciso que o tempo passe para perceber isso. Como quem olha pelo retrovisor e vê os amores que ficaram lá atrás. Mesmo numa relação menos positiva houve aprendizagem. Infelizmente a Amy Winehouse não viveu o suficiente para perceber o que tinha ficado (de bom) da sua relação com o Blake Fielder- Civil. Foram uma combinação letal os dois. Também acontece no amor. Mas há sempre algo de bom para reter depois de tudo.
JMV: Nem pensar, continua a haver amores felizes, lamento que ela não tenha vivido o suficiente para o dizer.