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Recheio 2024 Institucional

“A Legionella vai matar 36 milhões de pessoas”, por Hugo Sousa

Optei por este título para cativar a atenção dos prezados leitores porque, na realidade, não tenho nada de interessante para dizer, mas se esta estratégia resulta com o Correio da Manhã, aqui também vai resultar.
Eu próprio também me deixo levar por títulos sensacionalistas/alarmistas e chamo a atenção para o seguinte: está provado que quase todas as pessoas que se deixam levar por estes títulos sabem (pausa para um momento de suspense…) ler. E saber ler é bom porque se não escrevíamos um lembrete e depois não sabíamos o que estava lá escrito. Corríamos o risco de faltar ao batizado do filho dum primo afastado com quem não falámos há 10 anos, onde há putos com varicela a tossir para cima do bolo, outros a correr pela sala com restos de gelado nas mãos e terra nos pés, e ainda, um terceiro bando que dá pontapés a todo o tipo de objetos, incluindo as nossas canelas. Ia ser muito triste faltar a este belo evento e ficar no sofá a ver televisão e a beber uma cerveja.
Ser iletrado nem sempre é uma desvantagem. Sim, claro que vou falar dos jogadores de futebol. O cerne da questão é que, por muito que se esforcem, nunca vão ter o reconhecimento, não acredita? Vou dar um exemplo: O Tarantini do Rio Ave concluiu um mestrado na Universidade da Beira Interior com 18 valores. É um dos casos raros de um atleta que conseguiu conciliar o desporto de alta competição e os estudos. Não se deixou ficar por uma licenciatura mas seguiu para um mestrado. Abdicou de horas com a família e amigos para concretizar um sonho de ser alguém respeitado, não só pelo mundo do futebol, mas também por uma instituição académica. Tanto trabalho e aposto que, se na próxima jornada, a bola lhe bate no fundo das costas e entra na baliza adversária, alguém vai dizer: “Eh pá, o gajo marcou um golo sem saber ler nem escrever!”. É triste.
O Ébola vai matar 232 milhões de pessoas. Ainda aí está? Ainda bem! Isto resulta mesmo!
No percurso escolar, toda a gente teve problemas no processo de aprendizagem da língua portuguesa mas o mais comum (sim, é esse!) era desenhar o “q” maiúsculo. Ninguém sabia desenhar o “q” maiúsculo. Eu acho que nem mesmo a professora sabia desenhar o “q” maiúsculo. E reparem que refiro “desenhar” e não “escrever” porque é preciso ter um curso superior de belas artes para saber desenhar aquilo. Quando Leonardo Da Vinci pintou a Mona Lisa, ela estava com aquela cara de gozo porque estava a pensar: “queres pintar um quadro famoso e não sabes desenhar o “q” maiúsculo! Ah ah!” Lembro-me que era um grande martírio, era pior que desenhar o “h” maiúsculo. Como o meu nome é Hugo tinha vantagem porque sabia e praticava todos os dias o desenho do “h” maiúsculo, o que me trazia um grande estatuto. Dava bastantes autógrafos na escola. Só mais tarde percebi que eles queriam o autógrafo para pousá-lo no caderno, carregar no “H” com a caneta de modo a que este ficasse marcado na sebenta e desenharem sobre a marca. Grandes animais! Mas nunca consegui desenhar o “q” maiúsculo e, por causa disso, passei por casos de indisciplina que envolviam sempre bastantes reguadas… A certa altura fui chamado ao conselho diretivo e aí tive de mudar a minha atitude e parei de dar reguadas no totó da turma para ele me desenhar o “q” maiúsculo.
Na escola fiz bastantes amigos. Um dos meus melhores amigos da turma era cigano e chamava-se Zé. Ele era muito inteligente e até me ajudava nos trabalhos de casa. Em troca só tinha de lhe comprar t-shirts por 5 euros. Não me importava porque eram de marca (Ribock, Naike e Pluma), ficavam-me muito bem e, assim, também o ajudava porque ele dizia que o dinheiro lhe fazia falta para acabar de pagar a carta de condução. Outro bom amigo daquele tempo era o Jorge. Era um puto fixe, mas com um grande defeito… Era aquele rapaz franzino que dizia palavrões a toda a hora, desenhava pénis gigantes nas paredes da escola e, quando a professora se virava de costas, dava arrotos de 15 segundos. O defeito é que era mau aluno. O Jorge tinha muitas negativas, principalmente a matemática.
Um dia decidiu inverter o rumo da situação, mas foi apanhado pela professora a tirar cábulas com a tabuada do meio das pernas. Foi grave, em primeiro lugar, porque o teste era de português. Em segundo, porque as pernas eram da colega de carteira dele.
Apesar de encantador, ninguém dava nada pelo Jorge, era daqueles miúdos que toda a gente pensava que ia virar arrumador ou ia acabar a limpar escadas, mas a vida dá muitas voltas. Encontrei-o há 3 anos cá em Portugal na época natalícia e foi um choque. Descobri, com grande orgulho, que o meu amigo de longa data tinha um alto cargo na Google na Irlanda e faturava milhares! E a parte melhor é que esse amigo deu emprego de motorista ao Jorge…

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Hugo Sousa
Comediante de stand up{jcomments on}

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