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CIN - Branco Perfeito

Raquel Seruca

Raquel Seruca

Fascínio pela profissão

De acordo com Raquel Seruca, existem várias fases na carreira de um investigador. Numa fase inicial, ele centra-se num problema muito específico, uma pergunta que lhe é apresentada pelo seu supervisor, trabalhando em torno dele e desenvolvendo experimentação no sentido de o resolver ou tentar contribuir para a sua melhor compreensão. A segunda fase geralmente tem início durante e após o doutoramento, quando se espera que o investigador já seja capaz de começar a elaborar perguntas próprias, formuladas perante resultados a que tenha tido acesso previamente ou perante problemas que não estejam resolvidos. “Nesta fase, o investigador deve elaborar as suas próprias perguntas e estas devem ajudar na melhoria e compreensão de um mecanismo, de um aspecto clínico ou no desenvolvimento de uma ferramenta terapêutica, no âmbito das ciências da saúde”. Depois do pós-doutoramento tem de ser capaz de escrever projectos, afirmando-se como investigador independente. E é nesta fase que ele pode juntar uma pequena equipa, de alunos de doutoramento ou pós-doutoramento, que funciona sobre a sua supervisão, sendo capaz de gerar hipóteses experimentais e de conhecimento. Raquel Seruca já passou por todas elas, encontrando-se, agora, num nível muito mais avançado da carreira. Actualmente as suas responsabilidades incidem sobre a gestão científica do grupo que lidera, constituído por cerca de 40 profissionais, sendo já, muitos deles, investigadores independentes. “Este é para mim um trabalho muito interessante, embora já não seja tão experimental. O meu papel é o de complementar os diferentes investigadores em termos científicos, internacionalizar a equipa criando redes de colaboração no país e no estrangeiro. No fundo é como por um selo de qualidade no grupo exteriorizando a sua visibilidade”, explica, salientando que este é, ao mesmo tempo, um trabalho de gestão científica e humana. A investigadora confessa, no entanto, que não é tão fascinante como na fase da descoberta, onde o investigador é o primeiro observador, entre as pipetas do laboratório.

Investigação em Portugal
Para a cientista, a qualidade da investigação em Portugal está ao nível da que se faz no estrangeiro, apesar de ainda não haver acesso a verbas geradas especificamente para a aquisição de alguns equipamentos com maior capacidade tecnológica. “O mais limitador não é o nível científico dos investigadores mas as ferramentas tecnológicas necessárias para fazer investigação de ponta”, refere, salientando que os apoios à investigação têm vindo a aumentar. Para Raquel Seruca, os últimos anos têm sido sinónimo de uma clara tentativa de manutenção e solidificação na política de apoios à investigação que, em Portugal, é feita na base do mérito. “É apoiado quem é capaz de produzir bem e fazer boa investigação. Este é um exemplo a seguir”, refere. De acordo com a cientista, foram criados diversos programas que irão ter, a médio prazo, um grande impacto no sentido de melhorar o conhecimento nomeadamente na área da saúde, dando como exemplo os de investigação clínica e doutoramento para médicos. “Este incremento de incentivos é sinónimo de uma emergente sustentabilidade do sistema científico português”, sublinha, salientando que a investigação nacional é muito bem vista no estrangeiro. Raquel Seruca faz parte da Comissão Científica da Sociedade Europeia de Genética Humana e garante que os investigadores portugueses são muito conceituados no estrangeiro, quer pela sua capacidade científica, quer ainda pela originalidade.  

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Reconhecimento internacional
Raquel Seruca tem diversos artigos publicados nas mais carismáticas e reputadas revistas de saúde europeias. Um dos que lhe deu mais prazer, divulgado no American Journal Pathology, foi elaborado em conjunto com Carla Oliveira, uma das investigadoras que actualmente faz parte da equipa que lidera. “Foi um artigo sobre mutações de genes num tipo particular de cancro de estômago e do cólon e a sua associação com parâmetros clínicos. Deu-me imenso prazer porque me obrigou a seguir determinadas trajectórias para responder às críticas dos revisores e, inclusivamente, regressar ao mundo clínico, conversar com cirurgiões, perceber as técnicas de cirurgia. No fundo foi um regresso à medicina”, conta. O reconhecimento internacional é um orgulho para a cientista que teve a coragem de pedir directamente a Manuel Sobrinho Simões, director do IPATIMUP, para ir trabalhar com ele. “Tinha voltado da Holanda e fui muito corajosa em fazer o pedido ao professor Sobrinho Simões, docente de quem tinha gostado muito. Ele achou que eu poderia trazer algo de novo à área da patologia e ingressei no IPATIMUP”, refere, salientando que adora o que faz. “Tenho um enorme prazer naquilo que faço e, sobretudo, com quem faço. A minha equipa é fantástica”

Portuense com costela algarvia
Raquel Seruca nasceu no Porto e foi aqui que sempre viveu. “O Porto é uma cidade romântica e tem encantos muito particulares”, refere, salientando os dias de nevoeiro junto ao rio, os pôr-do-sol na Foz, as velhas livrarias da cidade e o cinzento do granito. A investigadora garante que “é uma cidade feminina”. Dos tempos de infância recorda a ruralidade da quinta dos bisavós. “Aquele local, na encosta do Falcão, era ainda muito rural, embora fosse uma zona integrada na cidade. Lembro-me de andar a regar o jardim, a ver as galinhas, a colher uvas americanas e andar de baloiço”, recorda. Hoje mora na Foz, numa cidade que tem pouco desse passado rural. A par destas recordações portuenses de infância, Raquel Seruca tem outras mais solarengas. “Devido à minha costela algarvia, ia muitas vezes lá visitar a minha avó paterna. O Algarve é cor, calor e sabor, e a casa da minha avó cheirava a amêndoa, um fruto típico da região. O cheiro dos figos e da alfarroba também fazem parte das minhas recordações de infância que ainda identifico sempre que vou ao Algarve”. A investigadora reconhece diferenças entre nortenhos e algarvios. “Enquanto que cá somos mais descontraídos, falamos e rimos alto, lá as pessoas são mais reservadas e desconfiadas”, conta. Vivências distintas mas ambas importantes na formação da personalidade desta cientista de elevado nível.

Texto: Marta Almeida Carvalho
Revista VIVA! – Edição Junho 2009

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