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Rui Moreira

Rui Moreira
Em sua opinião, o Porto acreditou que, com a entrada na Europa, o progresso iria surgir naturalmente e que o “peso político deixava de fazer sentido” o que demonstrou uma certa “ingenuidade”. Mas a evolução do regime também condiciona essa «apatia». De acordo com Rui Moreira, Portugal passou, em poucos anos, de um país bipolar a unipolar. “A dicotomia entre Lisboa e Porto perdeu-se, passando o poder, o Estado e as grandes opções políticas a concentrarem-se em e para Lisboa”. Mas apesar da perda de protagonismo, garante, o Porto burguês ainda existe, nomeadamente através de um grupo de cidadãos empenhados, com destaque para as profissões liberais que continuam a ter “um peso muito forte na cidade”.  

O Porto e o poder político
A concentração de recursos, principalmente em termos de investimento público, foi, para Rui Moreira, “um erro”, porque o poder central não partilha de um particular afeto pela segunda cidade do país, tendo vindo a tornar-se num Estado concentracionista que “cuidou de se refugiar nas ameias do castelo, em Lisboa, retirando competências ao resto do país”. A “portofobia” que garante que existe e que tem vindo a crescer, deve-se, sobretudo, à deslocalização para a capital dos grandes orgãos de comunicação social originários da Invicta, ao “fracasso que foi a NTV, à diluição de rádios de caráter noticioso, e àquilo que a RTP-N nunca conseguiu ser – uma televisão do Norte”. Embora, publicamente, já tenha manifestado algumas discordâncias com a Câmara do Porto, Rui Moreira não tem dúvidas sobre a gestão autárquica actual. “Quando olhamos para a crise de financiamento de que estamos a ser vítimas, percebemos que a gestão autárquica, efectuada nos últimos anos, nos permitiu amealhar reservas para enfrentar a situação actual do país”. Questões como o aeroporto, o Porto de Leixões, as Scut, o Fantasporto, o Rivoli, a cultura e o turismo, são batalhas que travou, enquanto cidadão, e sente que o Porto continua a ser prejudicado em todos estes temas. “O Porto é discriminado consecutivamente, em todas as políticas públicas”, garante, sublinhando que “desde o Estado Novo que não se via um governo tão «portofóbico» como o actual”. Rui Moreira lamenta, ainda, a resignação e o silêncio do núcleo distrital do PS, um partido que, em seu entender, tem responsabilidades acrescidas por ter liderado, durante anos, a autarquia portuense. “Os líderes locais têm-se comportado como meros comissários políticos”, acusa. O presidente da ACP foi, recentemente, indicado por Rui Rio para presidir à Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) não tendo o seu nome sido, ainda, sufragado pelo governo de Sócrates. “O trabalho que tenho desenvolvido, com o apoio de toda a estrutura da ACP, é perfeitamente satisfatório ao nível da minha participação cívica”, garante, descartando a hipótese de uma possível candidatura à autarquia portuense, no futuro.

Amor antigo
A relação que mantém com o Porto é muito forte mas, como todas as relações de amor, “também traz desapontamentos”, diz. Gosta da Foz, do encontro entre o rio e o mar, da dicotomia entre o Porto moderno e o medieval, da luz dourada, de andar a pé pela cidade, onde conhece vielas e recantos muito para além dos seus pontos principais. “É um amor antigo”, refere, sublinhando que é uma cidade com um caráter “diferente”. “Numa era de globalização, de modas, de media e de Internet, as cidades são muito parecidas umas com as outras. É nisto que o Porto ainda se distingue”, refere, salientando que a sua média dimensão, faz dela uma cidade “facilmente perceptível pela diferença”. A pronúncia e a forma de se expressar dos portuenses são, a par do Vinho do Porto, do FC Porto e da recente «movida», os grandes símbolos da cidade, que considera um autêntico “museu vivo”. Grande aficionado da francesinha, é frequentemente abordado pelas pessoas quando anda a pé no Porto. “Falam sobre futebol, sobre algo que ouviram na televisão ou para apresentar queixas e reclamações sobre diversos assuntos. Nunca tive nenhuma manifestação de antipatia”, conta. E se pudesse, o que mudava? “Sobretudo a falta de perceção da importância de algumas instituições da cidade”, admite, dando como exemplo a Universidade do Porto. “É necessário que a sociedade civil e o poder político se aproximem do grande potencial que a UP tem para a criação de recursos próprios na cidade e na região. Ela é a nossa «lâmpada de Aladino”.
Rui Moreira não consegue enumerar os traços de personalidade que melhor o definem. Gosta de ler e de escrever, não dispensa um passeio matinal para fugir ao stresse do quotidiano e, apesar de retirar grande prazer do trabalho, consegue desligar-se completamente, em férias.

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Garantir o lóbi económico e cultural da região
Foi no Porto que frequentou os estudos até ao último ano do liceu, mas partiu para Inglaterra em busca de um curso superior, tendo-se licenciado em Gestão. Passou, ainda, por outros países europeus, como a Noruega e a Alemanha, e no regresso à Invicta, começou a trabalhar numa empresa de família, na área da navegação e desportos onde se manteve por muitos anos. Posteriormente dedicou-se a negócios imobiliários, tornando-se presidente da ACP há cerca de uma década.
A Associação Comercial é uma entidade com grande peso histórico na Invicta, sobretudo pelas batalhas que tem travado na defesa dos ideais e na incrementação dos recursos do Porto, nomeadamente ao nível das infraestruturas. “Questões como a via férrea, o aeroporto, o Porto de Leixões e o metro têm sido as nossas lutas actuais”, aponta, salientando que fazem parte da tradição desta entidade. “A ACP surgiu em 1834, numa altura em que o país não tinha infraestruturas, tendo-se empenhado sempre no seu desenvolvimento”, recorda. De acordo com Rui Moreira, o papel da ACP é o de fazer “lóbi económico e cultural pela cidade e pela região, intervindo em tudo o que está ligado aos negócios locais, a sua relação com o exterior e com o poder central”.

«Dragão de Ouro»
Toda a gente lhe conhece a paixão clubista. Dragão de alma e coração, e também de ouro pela sua mais recente conquista da estatueta azul e branca – pela qual tem grande orgulho – é um acérrimo defensor do FC Porto, embora também um crítico. Essa «clubite» tem-no feito protagonizar diversos episódios onde saiu em defesa do clube da sua cidade. E sente sempre a necessidade de o fazer? “Sim, quando aquilo em que acredito é alvo de insinuações. Nunca pactuei com «autos-de-fé» públicos”, referiu numa clara alusão ao episódio recente que o levou a abandonar o programa “Trio de Ataque” da RTP-N, onde era comentador, devido a afirmações proferidas por António Pedro Vasconcelos. E foram os «autos-de-fé» que dominaram o processo “Apito Final”? “Acho que houve uma tentativa organizada e orquestrada para destruir o FC Porto, atacando, simultaneamente o seu presidente e a vertente desportiva”, referiu, salientando que as conferências de imprensa dadas por Ricardo Costa se assemelharam a verdadeiros «autos-de-fé». “Nunca vi sentenças serem anunciadas em conferências de imprensa”, ironizou.
A relação que mantém com o presidente do FC Porto é de grande estima e admiração por tudo aquilo que Pinto da Costa tem feito pelo clube. “O Porto, com a dimensão internacional que tem, foi um projeto de Pinto da Costa. Espero que se mantenha na liderança por muitos anos”. Quanto a uma futura «sucessão» do presidente portista, Rui Moreira está tranquilo, prevendo uma «passagem do testemunho» competente. “O Porto é um clube com uma estrutura exemplar, com grandes recursos físicos e humanos”, diz, salientando mesmo que o clube é um modelo de organização.

Discurso directo
Uma cor – Azul
Um filme – “Citizen Kane”
Um livro – “Os sete pilares da sabedoria” – Lawrence da Arábia  
Um lugar – Porto
Um projecto inadiável – O meu novo livro
Uma figura da cidade – D. Manuel Clemente
Porto – Coragem

Texto: Marta Almeida Carvalho
Revista VIVA! – edição março 2011

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