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Sete dúvidas sobre a vacina da gripe

Sete dúvidas sobre a vacina da gripe

Cada vez mais os portugueses aderem à vacina da gripe. Com uma nova época de gripe sazonal à porta, Susana Simões, pneumologista da Fundação Champalimaud, explica os benefícios e ajuda a desfazer alguns mitos.

Sete perguntas e sete respostas para dúvidas muito comuns quando o tema é a vacina da gripe.

1. Faço parte de um grupo de risco da gripe? Porquê?

Pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e doentes crónicos ou imunodeprimidos com mais de seis meses de idade são os grupos de risco que mais beneficiam com a vacina da gripe por dois motivos essenciais, explica Susana Simões.

Por um lado, a sua situação clínica ou idade mais avançada levam a que as defesas naturais sejam menos robustas, tendo assim maior probabilidade de, ao contrair o vírus da gripe, desenvolver doença e com risco de maior gravidade. Por outro lado, o impacto da gripe pode ser pior nestes indivíduos ao eventualmente condicionar uma descompensação das suas doenças de base, seja uma patologia do foro respiratório como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica ou outra condição como diabetes ou insuficiência renal ou cardíaca. “A infeção, por ser um mecanismo de stress para o organismo, vai sobrecarregar a reserva fisiológica destas pessoas, que já é baixa dado a doença crónica que apresentam, pelo que o organismo pode não conseguir lidar facilmente com a exigência que esta infeção condiciona”.

Com o organismo mais debilitado pela gripe, existe o risco acrescido para o aparecimento posterior de infeções bacterianas. Uma das mais preocupantes e graves é a pneumonia. Neste sentido, Susana Simões defende que a vacinação da gripe pode ser um momento de oportunidade para a vacinação antipneumocócica para quem nunca a tiver feito. Esta vacina previne a infeção com a bactéria da Streptococcus pneumonia, que é responsável pelos casos mais frequentes de pneumonia bacteriana, e é também recomendada a indivíduos com 65 anos ou mais e aos que apresentam doenças crónicas. Em Portugal, neste momento, só está disponível um dos tipos de vacina antipneumocócica que não exige reforço. A vacina da gripe e a vacina antipneumocócica podem ser feitas no mesmo dia, desde que em braços diferentes, explica a médica. Aconselham-se também os doentes crónicos a aproveitar esta altura do ano, e com a chegada do tempo frio, a procurar uma consulta com o médico assistente e verificar se a sua situação clínica está devidamente controlada.

Sob conselho médico, a vacina da gripe pode ser feita por outros grupos, em particular entre os 60 e os 64 anos, e também é recomendada de forma prioritária a grávidas e profissionais de saúde ou outros prestadores de cuidados. No caso das mulheres grávidas, além da prevenção da infeção, a imunização contribui, mais tarde, para a proteção do recém-nascido, que não pode receber a vacina antes dos seis meses de idade. Já os profissionais de saúde, mesmo sendo saudáveis, devem fazer a vacina para diminuir o risco de transmissão da doença. Nesse aspeto, sublinha a médica, importa ainda que todos tenhamos presente as boas regras da “etiqueta respiratória”. Tossir e espirrar para o cotovelo e lavar regularmente as mãos são outras armas importantes para um inverno sem gripe.

2. Existe mais do que um tipo de vacina da gripe?

Em Portugal está disponível a vacina trivalente da gripe, que protege contra os três tipos de vírus de gripe que se prevê que venham a ser dominantes na época gripal do hemisfério norte. De acordo com a Direcção Geral de Saúde, a vacinação contra a gripe teve início a 15 de outubro de 2018 (ou 3ª semana de outubro) de modo a garantir uma melhor e maior proteção durante o período da epidemia de gripe que, em Portugal, habitualmente, tem início na segunda quinzena de dezembro. Haverá também vacinas dispensadas nas farmácias com prescrição médica e com comparticipação de 37%. A receita médica emitida a partir de 1 de julho tem validade até 31 de dezembro de 2018. Está disponível de forma gratuita no Serviço Nacional de Saúde para maiores de 65 anos, doentes crónicos e imunodeprimidos, profissionais de saúde, bombeiros, indivíduos institucionalizados ou hospitalizados e residentes em lares, sem necessidade de receita médica ou de pagamento de taxa moderadora. Para esta época gripal, o Serviço Nacional de Saúde terá cerca de 1,4 milhões de doses de vacinas. Seis em cada dez portugueses acima dos 65 anos já fazem a vacina, mas é preciso continuar a aumentar a cobertura vacinal, em particular junto dos grupos de risco.

3. Todas as pessoas podem fazer a vacina ou existem contraindicações?

Além de a vacina da gripe só poder ser administrada a partir dos seis meses de idade, existem outros fatores de exclusão a ter em conta. Antecedentes de reação anafilática a qualquer um dos componentes da vacina, nomeadamente aos excipientes ou às proteínas do ovo, são um dos principais. A Direção Geral da Saúde recomenda ainda que, em caso de antecedentes de Síndroma de Guillain-Barré nas seis semanas seguintes à administração de uma dose da vacina, a decisão de vacinar seja ponderada caso a caso. A vacinação deve também ser adiada em caso de doença febril moderada ou grave ou doença aguda.

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4. “Fiz a vacina, mas fiquei logo doente”. Pode acontecer?

A vacina dá gripe? É uma confusão comum, muitas vezes até usada pela população para desvalorizar a importância da imunização contra a doença. Susana Simões sublinha que a vacina não causa gripe. “A vacina pode ter como efeito secundário o aparecimento de sintomas idênticos aos da gripe, dado haver uma estimulação do organismo aos vírus que foram introduzidos no organismo através da vacina, mas esta situação não é uma infecção uma vez que os vírus estão inativados”, explica a médica. Além disso, como a vacina só começa a fazer efeito duas semanas após a toma, existe um intervalo de tempo em que é possível ocorrer contágio e doença pois a vacina não teve tempo de activar devidamente as defesas. Por outro lado, existem vários vírus da gripe. Como a vacina apenas contém os três tipos de vírus que se pensa que serão os mais graves do respectivo ano, a infecção pelos restantes tipos de vírus continua a ser possível.

Uma vez que o vírus da gripe é um um vírus do frio, a vacinação é recomendada preferencialmente até ao final do ano, quando o vírus da gripe ainda não está em circulação ou está apenas a começar a circular gradualmente. Mas quanto mais cedo melhor. O pico da doença tende a ocorrer entre janeiro e fevereiro.

5. É mesmo preciso fazer a vacina todos os anos?

Sim. A memória dos anticorpos gerados contra o vírus da gripe perdura mas tende a diminuir. Além disso, este é um agente em permanente mutação e todos os anos surgem novos vírus dominantes. É por esse motivo que são fabricadas, anualmente, vacinas contra os tipos de vírus mais relevantes nas épocas gripais do hemisfério sul e hemisfério norte.

6. A vacina previne o contágio a 100%?

Nenhuma vacina tem uma taxa de eficácia de 100%. O efeito está dependente do estado de saúde geral da pessoa e do funcionamento do sistema imunitário – e pensa-se que até a disposição é um factor a ter em conta. Um estudo publicado em 2017 por investigadores da Universidade de Nottingham sugeriu que estar de bom humor no dia da vacinação contra a gripe aumenta a sua eficácia, com o ânimo a influenciar a imunidade. Os vírus em circulação acabarem por não ser exatamente iguais aos que foram utilizados no fabrico pode também diminuir a eficácia. Segundo o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC na sigla em inglês), embora os estudos de eficácia variem, estima-se que a vacina reduza o risco de gripe em 40% a 60%. O mais importante, sublinha a pneumologista Susana Simões, é que a vacina previne os quadros mais graves, diminuindo o risco de complicações e hospitalização. “Mesmo que uma pessoa contraia o vírus, a probabilidade é de apresentar uma manifestação de doença mais ligeira”.

7. O impacto da gripe é assim tão grande?

Por ser uma doença comum e muitas vezes benigna, nem sempre é encarada como um problema de saúde pública… Mesmo que ao longo da história não tenham faltado sobressaltos. Em 2018 assinalam-se os 100 anos da pandemia de gripe espanhola em 1918, que afetou mais de um terço da população mundial e terá feito a 50 a 100 milhões de vítimas mortais, o que corresponde a 5% da população do planeta. Em 2009, um novo vírus pandémico, o H1N1, fez soar o alerta e levou à produção de uma vacina em tempo recorde contra a chamada gripe A. O facto de esta ser uma doença altamente contagiosa e de alguns tipos de vírus poderem ser especialmente agressivos faz com que a prevenção seja uma preocupação a nível mundial. Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que, anualmente, as complicações de saúde associadas à gripe sejam a causa de morte de 650 mil pessoas em todo o mundo. A maioria das vítimas tem mais de 75 anos. Alguns estudos sugerem que a vacina diminui em 80% o risco de se ser admitido numa unidade de cuidados intensivos por causa da gripe e previne centenas de milhares de hospitalizações.

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